segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O mito do megapixel: não se deixe enrolar

Existe no mercado das câmeras digitais uma “corrida do megapixel”: cada marca lança a cada tantos meses um modelo novo com um tanto a mais de pixels que o modelo anterior. O mercado ficou tão viciado nessa corrida que até parece que tudo o que importa em uma câmera são os megapixels, e quanto mais deles, melhor. Mas não é bem assim.

Por Mario Amaya
É claro que não é bem assim. É legítimo perguntar-se se a escalada dos pixels vai parar ou diminuir, e também se os megapixels de que você dispõe atualmente já dão conta de suas necessidades.
Pois bem: aconteceu praticamente a mesma coisa na informática.
Antigamente, o número de megahertz do processador era utilizado como medida direta da velocidade do PC. Ao longo dos anos, viemos assistindo a uma escalada da velocidade dos processadores. Mas esses números cada vez menos se traduzem diretamente no desempenho das máquinas, já que ele depende de inúmeros outros fatores de grande importância.
Na fotografia acontece o mesmo: o número de pixels do sensor não é diretamente proporcional à qualidade da câmera, porque há outros fatores envolvidos.
A óptica é a primeira determinante da qualidade. Não há milagres na óptica: o sensor só conseguirá captar aquilo que a objetiva conseguir entregar a ele. A nitidez e a claridade de cada lente tem um limite, bem como sua capacidade de evitar distorções. Lentes menores são mais limitadas, por uma simples questão física: há menos luz disponível para ser processada e convertida em uma imagem digital.
Em segundo lugar, os sensores das câmeras são fabricados em um certo número de dimensões físicas padronizadas, sendo a maioria bem menor do que o tradicional fotograma de um filme de 35 mm. Essa redução de dimensões ajudou a miniaturizar as câmeras e também as lentes. Porém, ao aumentar-se o número de pixels dentro de uma área de sensor constante, cada pixel capta menos luz e gera mais ruído na imagem em relação à geração anterior do sensor com menos pixels. Por conta disso, surgiu o paradoxo de haver câmeras compactas de 10 mp ou 12 mp, valores acima dos de muitas profissionais, que produzem imagens menos detalhadas e mais “sujas” que as produzidas por máquinas anteriores da mesma marca com “apenas” 8 mp ou 6 mp.
Boas câmeras de filme de 35 mm ainda conseguem gerar imagens mais detalhadas do que as atuais digitais compactas. Um scan de negativo de 35 mm rende a partir de 8 mp de imagem nítida, dependendo da qualidade do filme e da lente. Somente nos últimos anos as SLRs digitais profissionais ultrapassaram esse nível de qualidade bruta. Compactas vão demorar mais, porque o desafio é maior. Não chegamos, ainda, a um impasse prático, como aconteceu na informática com a velocidade dos processadores. Há espaço para aperfeiçoamentos futuros. Mas eles poderão vir mais lentamente.

As minúsculas lentes são muito difíceis de projetar e fabricar com qualidade. Essa é uma razão de existirem relativamente poucas grandes fábricas de câmeras. E muitas vezes a fábrica de câmeras estabelece uma parceria para usar lentes que foram desenvolvidas por outra empresa especialista no assunto, como acontece com a Sony e a Carl Zeiss, ou com a Panasonic e a Leica. Sensores também são um componente difícil de produzir; você sabia que a Sony fornece sensores para diversos modelos de câmeras da concorrência?
O processamento de imagem também é um diferencial. As diversas marcas utilizam sistemas diferentes para processar suas imagens internamente, resultando em fotos com aparência bem diferente em câmeras da mesma faixa de megapixel. Todas precisam enfrentar o problema do ruído gerado pelos sensores pequenos, especialmente nos ISOs mais elevados. A maioria utiliza o truque de borrar os detalhes finos da imagem para disfarçar o ruído; outras mantêm o ruído mais visível, mas tentam fazer com que ele se assemelhe ao grão de filme, borrando as cores.
Resumindo tudo, o consumidor esperto não vai se deixar seduzir pelo marketês simplista, que iguala falaciosamente megapixel com qualidade, e vai selecionar sua câmera primeiramente pela qualidade da óptica, em segundo lugar pela ergonomia e só depois pela longa e complexa lista de recursos.
Na prática, uma câmera compacta com sensor de 8 mp e uma lente decente vai gerar ampliações em papel de 10×15 cm com qualidade comparável às fotos de uma ótima câmera de filme de 35 mm. Mais que isso, caso você não faça questão absoluta de ampliações maiores, será desperdício de cartão de memória.



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